Análise do filme Alien: Romulus (2024)

Não é um tão ruim quanto eu esperava, mas não tão bom quanto poderia ter sido.

Adicionado a 6 de novembro de 2024 por Facínora.

Demorou, mas ficou pronta a minha análise sem spoilers do filme Alien: Romulus, um filme de ficção científica e terror de 2024 — parte da franquia Alien — que se passa entre os eventos de Alien – O Oitavo Passageiro (1979) e Aliens – O Resgate (1986), os dois melhores de todos.

Dirigido por Fede Álvarez e escrito por Álvarez e Rodo Sayagues, seu elenco principal é composto por Cailee Spaeny, David Jonsson, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn e Aileen Wu, que interpretam seis jovens colonos espaciais que se deparam com criaturas hostis enquanto vasculham uma estação espacial abandonada.

Alien: Romulus teve sua estreia em Los Angeles no dia 12 de agosto de 2024, e foi lançado nos cinemas dos Estados Unidos em 16 de agosto. O filme arrecadou mais de $350 milhões mundialmente nas bilheterias. Em 3 de dezembro de 2024, a 20th Century Studios ficou de lançar o filme em VHS, o que para muitos traz memórias nostálgicas.

Alguns acertos

Vou começar a resenha com um acerto de Romulus, que adota uma estética retrofuturista que remete inequivocamente aos filmes originais da franquia, algo que traz a atmosfera de terror e ficção científica clássica de volta de maneira eficaz. A escolha de manter uma abordagem mais simples e distanciando-se substancialmente das chatices de Prometheus e Alien: Covenant, também foi um ponto positivo. O filme foca na tensão criada pela presença dos aliens – criaturas sorrateiras e assassinas, quase uma força da natureza – o que sinaliza que não tentaram reinventar a roda, mas em capturar a essência das raízes da franquia. Há também uma interessante ambientação sombria, embora nada muito horripilante que dê nos nervos.

Não notei também nenhuma lacração sem-vergonha. Com um pouco de atenção, dá para extrair algumas mensagens mais ou menos sutis, mas não é nada imposto de forma agressiva, que ofende a inteligência do espectador. Ao contrário, há espaço para que a trama siga sem o peso de ideologias que poderiam prejudicar a experiência, o que se torna um alívio quando comparado a outras produções contemporâneas que acham que isso vai agradar, mas acaba só espantando as pessoas normais do bagulho. O foco permanece no enredo, sem distrações externas, o que funciona bem. Há boas cenas de ação/terror, embora demore um pouco demais pra acontecer algo realmente envolvente.

Desenvolvimento de personagens e suas deficiências

Apesar de acertar com a protagonista e com a interessante dinâmica promovida pelo andróide Andy, Alien: Romulus falha gravemente no desenvolvimento de seus outros personagens, que coadjuvantes são rasos, sem motivação ou profundidade, o que torna difícil ao espectador se importar com eles, ao contrário de filmes anteriores da franquia, onde é fácil simpatizar com a turma toda, até com alguns dos vilões safados. Além disso, algumas das decisões tomadas pelos personagens são simplesmente absurdas, o que só pode ser explicado por retardo mental ou, mais provável, como conveniências de roteiro.

O problema do desenvolvimento raso dos personagens em Romulus é particularmente notável quando comparamos com seus predecessores mais antigos. Até Alien: Resurrection, que é um filme que acho difícil de descrever, soube desenvolver seus personagens de forma mais eficaz. No caso de Romulus, algumas decisões dos personagens parecem ser orientadas não pelas suas personalidades ou pela lógica do enredo, mas pelo desejo de mover a história para frente de maneira artificial. Além disso, nem lembro direito quais suas motivações eram.

Fanservice: uma armadilha para a originalidade

Uma das maiores falhas de Alien: Romulus é sua dependência excessiva de referências e fanservice às obras anteriores. Não estou falando que sou contra isso, querendo dar uma de cult e sofisticado que transcendeu os interesses do povão, mas parece que o filme faz dessas referências o principal motor da história, em vez de apresentar algo autêntico e que tenha valor em si. As citações diretas de diálogos de seus predecessores foram o pior, dando até vergonha alheia. Tipo, é bacana que eles tenham valorizado elementos de quase tudo o que foi lançado, até mesmo da porcaria do Prometheus, mas acho que deveriam ter usado isso de uma maneira mais orgânica e criativa.

Enfim, essa dependência excessiva de fanservice reflete um problema na cultura pop contemporânea: parece que os responsáveis perderam o interesse e/ou capacidade de explorar e extrair símbolos e temas ricos das obras clássicas, o que geralmente garante profundidade e agrega valor ao novo produto, como faziam até mesmo nas obras mais subversivas até mais ou menos o início dos anos 2000.

O fato é que muitas produções atuais se limitam a referências e a repetição de fórmulas conhecidas, uma linha de montagem em massa incapaz de trazer algo significativo em si, apenas enlatados. Claro, atualmente tem que se levantar a mão pro céu quando não descaracterizam as franquias em prol de “desconstruções”, “adequações para as audiências modernas” e outros tipos de politicagens baratas que só tem ressonância entre psicóticos obesos de cabelo azul e professores universitários toxicômanos. Sei que pode ser um desafio inovar sem avacalhar nas cabeças desses caras, mas, visto que Romulus foi um sucesso de bilheteria, quem sabe da próxima vez, afinal a esperança é a última que morre.

Potencial não aproveitado

No fim das contas, Alien: Romulus não é um filme tão ruim quanto eu esperava, mas não tão bom quanto poderia ter sido. A obra acerta ao retornar à essência do terror e da ficção científica, mas falha ao depender demais de elementos e referências do passado, sem adicionar nada substancial em si. Embora seja interessante ver a tentativa de reviver o espírito de alguns de seus predecessores, o filme não consegue ir além disso, se contentando em fazer referências ao que já foi lançado de forma não orgânica e até cringesca. Fica claro que há um potencial desperdiçado, especialmente ao não explorar mais a fundo a dinâmica do andróide Andy, de longe o personagem mais interessante de Romulus, ou ao não trabalhar melhor a consistência dos seus companheiros.

O filme se encaixa bem na tendência contemporânea de reciclar conteúdo em vez de criar algo verdadeiramente novo, o que reflete uma falha maior na indústria da cultura pop atual: se contentar em fazer referências e fanservices para atrair um público nostálgico, sem explorar conceitos que antigamente eram extraídos de obras clássicas e imortais para enriquecer as novas. Claro, o público nostálgico de hoje em dia não é mais simplesmente aquele bando de bocas abertas “geeks” e “nerds” da década passada, é bem mais exigente, e acho que por isso que Romulus, apesar dos pesares, tratou tudo mais ou menos com respeito. Tá, tem um deep fake lá que divide opiniões, mas não vou falar disso pra não spoilar

O fato é que Romulus poderia ter sido algo mais substancial e, ao mesmo tempo, uma inteligente homenagem à franquia, mas, infelizmente, acaba sendo uma obra que, embora não completamente negativa, não consegue superar os limites impostos pela dependência do passado.

Trailer

Sinopse

Em 2142, Rain Carradine, uma órfã que trabalha na colônia Jackson’s Star em LV-410, descobre que sua permanência foi forçada pela Weyland-Yutani. Junto com seu irmão adotivo Andy, um andróide reprogramado, e outros aliados, ela tenta escapar a bordo de uma nave roubada rumo à estação Renaissance, com planos de roubar equipamentos de criogenia para alcançar o planeta Yvaga III, longe da corporação. Porém, ao chegarem à estação, descobrem que ela está prestes a colidir com os anéis de LV-410, e um pesadelo alienígena começa a se desenrolar. Com o grupo enfrentando facehuggers, xenomorfos e reviravoltas entre seus companheiros, Rain luta para salvar a todos enquanto enfrenta uma ameaça implacável e tenta garantir sua fuga para Yvaga III.

Ficha técnica

  • Título: Alien: Romulus (2024)
  • Duração: 119 minutos;
  • Gênero: ficção científica e terror;
  • Escrito e dirigido por: Fede Álvarez;
  • Baseado em: personagens criados por Dan O’Bannon e Ronald Shusett;
  • Produzido por: Ridley Scott, Michael Pruss eWalter Hill;
  • Elenco Principal: Cailee Spaeny, David Jonsson, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn e Aileen Wu;
  • Data de Lançamento: 12 de agosto de 2024 (Los Angeles), 16 de agosto de 2024 (Estados Unidos);
  • País: Reino Unido, Estados Unidos;
  • Idioma original: inglês;
  • Distribuição: 20th Century Studios;
  • Produção: Scott Free Productions, Brandywine Productions e TSG Entertainment.

Extra: mod de Aliens para Doom

Já que estou aqui falando de Aliens, nada melhor do que apresentar um mod pra Doom (com GZDoom) com o Xenomorph Madness, um pacote que traz como inimigos os perigosos e sorrateiros xenomorphs da franquia para você meter bala. Confira uma jogatina que, graças a este e outros mods, mistura Alien com Doom 64 (outra parada sombria) no vídeo abaixo:

Mods da jogatina

A seguir, temos a lista completa de mods usadas nesta gameplay, em sua ordem de carregamento.

  1. Consolation Prize;
  2. Enhanced Vanilla Project (EVP);
  3. Xenomorph Madness;
  4. Universal Weapon Sway;
  5. Nash’s Gore Mod;
  6. Bloom Boost;
  7. Sbrightmaps;
  8. LILA-Music.

P.S.: foram usados o IWAD do Doom II: Hell on Earth e o GZDoom 4.7.1 para rodar esta partida.


Bom, é isso aí.

O que achei do filme eu já falei. Falta só você deixar suas considerações pra nós.

Abraços!

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