Análise de A Hora do Vampiro (2024)

Neste artigo, trago a minha análise sem spoilers de A Hora do Vampiro (‘Salem’s Lot), um filme de terror sobrenatural americano de 2024 escrito e dirigido por Gary Dauberman, baseado no romance de 1975 de mesmo nome de Stephen King. A película teve sua estreia mundial como filme de abertura no Beyond Fest em 25 de setembro de 2024 e foi lançado no Max em 3 de outubro de 2024.

O filme é estrelado por Lewis Pullman, Makenzie Leigh, Alfre Woodard, John Benjamin Hickey, Bill Camp, Jordan Preston Carter, Nicholas Crovetti, Spencer Treat Clark, William Sadler e Pilou Asbæk. É a primeira adaptação cinematográfica do livro, precedida pelas minisséries de 1979 e 2004. O enredo é centrado em um escritor que retorna à sua cidade natal, Jerusalem’s Lot, em busca de inspiração, apenas para descobrir a presença de um vampiro ameaçando o local.

Resenha

Pra mim, esse ‘Salem’s Lot carrega uma bagagem significativa, especialmente para quem conhece o enredo. Além do romance original, existem também as duas minisséries. Enquanto a primeira adaptação não me causou tanto impacto (talvez por eu ter visto apenas a versão encurtada de apenas duas horas), a segunda é provavelmente uma das melhores adaptações do autor, mesmo com o cenário atualizado para se passar nos anos 2000, na minha opinião.

Mesmo antes de começar a assistir a essa versão de 2024, já me veio então o ponto fraco que é a ausência de Rutger Hauer (1944 – 2019), cuja interpretação do vampiro Kurt Barlow na minissérie de 2004 foi muito interessante e memorável, trazendo uma abordagem mais sutil e menos monstruosa (pelo menos visualmente) ao personagem. Já no filme, temos a falta de um antagonista carismático. Nem mesmo Straker, que oferece muitas possibilidades, aparece tanto. Ah, seu enredo, em certas partes, também diverge substancialmente do livro e das adaptações anteriores.

Visualmente, A Hora do Vampiro é muito bem feito, apresentando uma estética que remete a meados dos anos 70, o que cria um apelo nostálgico interessante, pelo menos de início. O cenário da pequena cidade é eficaz em criar uma atmosfera de isolamento e tensão, perfeita para um filme de terror. O filme concatena um ritmo lento pra construir ambientação, algo meio slow burn, com cenas sombrias e momentos de tensão que são eficazes em gerar uma atmosfera horripilante.

No entanto, ‘Salem’s Lot enfrenta o mesmo desafio de muitas adaptações de Stephen King: condensar um livro complexo de quase 500 páginas em um formato de longa-metragem. King pode ter uma porrada de defeitos, mas ninguém pode falar que ele não sabe construir personagens, mas isso demanda bastante tempo. Ao tentar comprimir essa construção em um filme de menos de uma hora e vinte minutos, perde-se muito da profundidade e do desenvolvimento emocional, fazendo com que o público se importe muito pouco com o que acontece com os personagens. As minisséries, por terem mais duração, não sofrem deste problema, mas, dos filmes, poucos se salvam, e este aqui não é exceção.

Existe uma historia nas entrelinhas que refere-se ao fato das pessoas da cidade, Jerusalem’s Lot, serem apáticas diante do mal, quando não subservientes, e por isso foi escolhida por Barlow para seus planos diabólicos. Isto é muito interessante e um tema sempre atual, mesmo que exacerbado em certas eras (como hoje em dia). Acho que poderia ter sido mais explorado, mesmo que subliminarmente. Iria enriquecer mais a narrativa de ‘Salem’s Lot.

A adaptação de 1980 de O Iluminado, outro calhamaço de Stephen King, por Kubrick obteve sucesso, mas, se for ver, seu é muito pobre em relação ao romance e, em muitos aspectos, infiel. Tipo, essa abordagem teve seu mérito e deu certo, entretanto ao custo de modificar drasticamente o tom da história. Mas Salem’s Lot não segue esse caminho, ficando com a impressão de que tentou respeitar o material original, mas foi prejudicado pela limitação de tempo e outros gargalos provavelmente impostos por produtores. Claro, tem outros sucessos como Um Sonho de Liberdade e o incrível Louca Obsessão, mas uma solução melhor para ‘Salem’s Lot poderia ter sido transformar a história em uma minissérie ou dividi-la em dois filmes, como feito com IT, outra adaptação recente de King, sendo que esta, veja só, obteve sucesso nos cinemas. Claro, isso ia depender dos produtores tirarem o escorpião do bolso, mas como esses caras são geralmente burros, pode ser que o resultado final foi o que deu pra fazer.

Enfim, apesar dos problemas estruturais, Salem’s Lot (2024) ainda é uma experiência assistível, sem lacres ou exageros estilísticos, que mantém-se fiel ao gênero de terror. Contudo, a curta duração, a meu ver, é o que prejudica o desenvolvimento da trama mesmo, que parece apressada e não envolvente. Os eventos importantes acontecem rápido demais, sacrificando a construção de suspense e a imersão do espectador. Talvez uma versão estendida do diretor pudesse corrigir muitos desses problemas, entregando uma experiência mais completa e satisfatória.

Trailer

Sinopse

O escritor Ben Mears retorna à cidade de sua infância, Jerusalem’s Lot, para escrever um livro. Ele logo percebe que algo estranho está acontecendo, especialmente com a chegada de um misterioso homem chamado Straker, que se instala na antiga e sinistra Mansão Marsten. À medida que eventos perturbadores se desenrolam, envolvendo mortes inexplicáveis e desaparecimentos, Ben e um grupo de moradores tentam desvendar o segredo por trás da mansão e da presença sombria que assola a cidade. Ao descobrir que forças sobrenaturais estão em jogo, o grupo luta contra o tempo para impedir que a ameaça consuma a cidade inteira.

Ficha técnica

• Título: Salem’s Lot/A Hora do Vampiro (2024);
• Duração: 113 minutos;
• Gênero: terror;
• Escrito e dirigido por: Gary Dauberman;
• Baseado em: Salem’s Lot de Stephen King;
• Produzido por: James Wan, Michael Clear, Roy Lee e Mark Wolper;
• Elenco Principal: Lewis Pullman, Makenzie Leigh, Alfre Woodard, John Benjamin Hickey, Bill Camp, Jordan Preston Carter, Nicholas Crovetti, Spencer Treat Clark, William Sadler e Pilou Asbæk;
• Data de Lançamento: 25 de setembro de 2024 (Beyond Fest), 3 de outubro de 2024 (Estados Unidos);
• País: Estados Unidos;
• Idioma original: inglês;
• Distribuição: Max;
• Produção: Warner Bros. Pictures, New Line Cinema, Atomic Monster, Vertigo Entertainment e Wolper Organization.

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