Michael Sugrue – A Escola de Frankfurt

Michael Sugrue a respeito da Escola de Frankfurt, um movimento intelectual que emergiu no início do século XX com a tentativa de reinterpretar a teoria marxista, incorporando elementos da psicanálise freudiana e de outras tradições filosóficas alemãs (Leia a descrição completa).

Adicionado a 19 de novembro de 2024 por Emerald.

Neste artigo, trazemos uma interessantíssima exposição do incrível professor Michael Joseph Sugrue (1957 – 2024) a respeito da Escola de Frankfurt, um movimento intelectual crucial que emergiu no início do século XX, em um período de intensa turbulência política e social na Europa.

Fundada por um grupo de pensadores marxistas e sociólogos, a Escola de Frankfurt procurava explicar as causas e consequências dos grandes fracassos políticos, econômicos e sociais que levaram a regimes totalitários, como o fascismo e o nazismo. Sua preocupação central era o questionamento de como a racionalidade moderna, ao invés de libertar, havia sido instrumentalizada para justificar opressões e abusos, contribuindo para a conformidade social e para a perpetuação de um sistema capitalista, que, segundo esses tipos, era profundamente desigual.

A análise da aula de Michael Sugrue sobre a Escola de Frankfurt revelou uma crítica significativa à abordagem dos teóricos dessa escola. Sugrue não apenas examina as ideias filosóficas centrais da Escola de Frankfurt, mas também questiona suas suposições e implicações, oferecendo uma perspectiva crítica sobre seus pontos fortes e fracos.

O texto deste nosso post tenta ser uma análise abrangente que capture a essência e a relevância de sua crítica. Resolvemos compô-lo para ajudar em sua compreensão, pois o vídeo não tem legendas manuais em PT-BR (embora a transcrição automática traduzidas ao português pelo YouTube possa ficar legível, valendo a pena dar uma olhada na barra de reprodução do vídeo e ativar essa opção).

Introdução: a Escola de Frankfurt e sua contextualização histórica

A Escola de Frankfurt nasce da tentativa de reinterpretar a teoria marxista, incorporando elementos da psicanálise freudiana e de outras tradições filosóficas alemãs. Composta por pensadores como Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse e Jürgen Habermas, essa escola teve como objetivo compreender as causas das grandes catástrofes políticas do século XX e desenvolver uma crítica profunda das sociedades capitalistas.

Sugrue aponta que o contexto histórico da Alemanha do século XX foi fundamental para moldar as perspectivas da Escola de Frankfurt. Após a Primeira Guerra Mundial e o colapso da República de Weimar, o país vivenciou uma polarização entre o nazismo e o comunismo, deixando pouco espaço para um cenário político moderado. Essa polarização influenciou profundamente o pensamento dos intelectuais da escola, que buscaram não apenas entender as raízes dessas crises, mas também propor soluções normativas para evitar que tais desastres se repetissem​.

A crítica teleológica e a busca pela transformação social

Um aspecto central da Escola de Frankfurt é a fusão entre teoria e prática, herança do marxismo. Esses pensadores não estavam apenas interessados em interpretar o mundo, mas em mudá-lo. Para eles, a filosofia deveria ter um caráter normativo, ou seja, deveria não apenas descrever a realidade, mas também prescrever soluções para os problemas sociais. A Escola de Frankfurt rejeita a dicotomia entre ciência e ética, defendendo que a razão deve ser aplicada tanto para a compreensão dos fatos quanto para a determinação dos fins a serem alcançados​.

Sugrue ressalta que a visão da Escola de Frankfurt é teleológica, ou seja, orientada por uma concepção de razão que aponta para fins morais e éticos. Isso contrasta fortemente com a tradição anglo-americana de filosofia, que, segundo Sugrue, é muito mais focada em uma concepção instrumental da razão, onde esta serve apenas para determinar os meios, e não os fins. Para a Escola de Frankfurt, essa visão “truncada” da razão, que dominaria as sociedades capitalistas, é uma das causas dos problemas políticos e sociais que culminaram nas grandes tragédias do século XX​.

Marxismo, Freud e a conexão com a psicanálise

Outro elemento fundamental da Escola de Frankfurt é a combinação das teorias marxistas com a psicanálise freudiana, uma tentativa de preencher as lacunas do marxismo clássico, que, segundo os frankfurtianos, não abordava adequadamente a psicologia social. Freud oferece uma compreensão mais profunda do indivíduo, da formação de sua psique e de como essa psique é moldada pelas estruturas sociais​.

No entanto, Sugrue detona essa visão, argumentando que a remoção total das restrições aos desejos humanos não levaria necessariamente à felicidade, mas sim ao tédio e à anomia, uma condição de ausência de normas que, em última instância, resultaria no niilismo. Nesse sentido, Sugrue concorda com Freud, que defendia que a civilização exige a repressão de certos desejos para manter a ordem social​.

Sugrue também critica a atitude elitista dos pensadores da Escola de Frankfurt em relação à cultura de massa. Adorno, em particular, é descrito como alguém que desprezava a música popular, como o jazz e o rock and roll, vendo essas formas de expressão cultural como instrumentos de alienação das massas. Para ele, a verdadeira arte, como a música dodecafônica, era incompreendida pelas massas e, portanto, representava um ideal estético superior​.

Essa visão elitista, segundo Sugrue, revela uma profunda desconexão entre os intelectuais da Escola de Frankfurt e as pessoas comuns, sugerindo que, em vez de libertar as massas, os frankfurtianos estavam interessados em impor seus próprios padrões de cultura e razão, o que, em última análise, reforça a hierarquia intelectual e o distanciamento entre a elite e o povo​.

O legado ambivalente da Escola de Frankfurt

Embora Sugrue reconheça o valor das tentativas da Escola de Frankfurt de entender e responder aos problemas do século XX, também aponta para as falhas e limitações desse projeto. As críticas ao capitalismo e à razão instrumental se mostram exageradas e incapazes de explicar adequadamente as sociedades democráticas liberais, como os Estados Unidos. Além disso, a visão elitista dos frankfurtianos, que desdenhava a cultura de massa e impunha uma visão estreita de razão e arte, é outro ponto fraco significativo​.

Assim, a análise de Sugrue expõe que a Escola de Frankfurt deixou uma marca profunda, porém contestável, na filosofia social e política, e suas propostas e diagnósticos devem ser abordados com cautela e ceticismo, pra dizer o mínimo.

Paralaxe cognitiva

A ideia de que os teóricos da Escola de Frankfurt, como Adorno e Marcuse, sofriam da chamada paralaxe cognitiva faz muito sentido. Eles criticavam a sociedade de massas, a cultura popular e as estruturas políticas, mas muitas vezes de uma posição intelectual tão elevada que pareciam incapazes de enxergar as contradições em suas próprias visões. Isso, de fato, dá a impressão de que eles se colocavam em um patamar superior, quase gnóstico, como se tivessem um conhecimento oculto ou exclusivo da verdade sobre a sociedade, enquanto as massas estavam presas à ignorância.

Essa ideia de revolta contra a estrutura da realidade, ou até mesmo contra Deus, é algo que ecoa fortemente em algumas críticas ao pensamento deles. A Teoria Crítica, de fato, muitas vezes não se limitava a críticas práticas ou funcionais das sociedades, mas também desafiava a própria essência da ordem natural e moral, como se a realidade em si fosse insuficiente ou falha. É um tipo de soberba intelectual que reflete uma arrogância: a crença de que o conhecimento ou a visão crítica deles lhes dava o direito de desafiar, e até de reordenar, o que é fundamental.

Em muitos aspectos, isso lembra aquela visão gnóstica de que o mundo material e a ordem natural são defeituosos, e que só os “iniciados”, aqueles que possuem o conhecimento verdadeiro, têm a capacidade de transcender essa ordem e ver além da ilusão em que os outros estão presos.

Essa “gnose acadêmica”, se podemos chamar assim, resulta numa postura de superioridade que, paradoxalmente, pode acabar alienando aqueles que eles pretendiam “libertar”, ao mesmo tempo que se revoltam contra qualquer forma de limite imposto pela realidade.

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